Somos escoras?

É lindo ver as escoras na construção civil. Aquelas simples estacas de madeira, sem nenhuma beleza mas com uma função de sustentar toda a obra pelo tempo da concretagem. Ninguém com o mínimo conhecimento de construção, ousaria tocá-las ou tir
á-las do lugar. Eu imagino o esgotamento daquelas madeiras. Mas,quando a
construção recebe os acabamentos finais, o piso, a pintura e finalmente o "habite-    se"? Quem se lembrará daqueles feias escoras?Possivelmente, se não tiverem chegado à exaustão, estarão sustentando outra construção ou então acabarão num fogueira qualquer.

Nós que cuidamos de um ente querido com uma demência como Alzheimer somos escoras de uma casa que está desmoronando. Ficamos ali, dia após dia, segurando alguém que, aos poucos vai deixando de existir. Somos tão importantes para a vida delas quanto aquelas estacas foram para aquele lindo prédio. Muitas vezes somos tratados como alguém sem importância, ignorados como se não existíssemos  e isso dói muito. Quando tudo acaba estamos tão cansados quanto àquelas estacas de madeira, secos de sentimentos. Isso tem que mudar, cuidador não é estaca para acabar numa fogueira do burnout da vida. Cuidadores são pessoas especiais, sensíveis e com suas próprias cargas emocionais. As famílias tem que entender isso, o Estado tem que entender isso e valorizar mais essa figura que não recebeu nenhum preparo profissional para executar essa tarefa. 

Eli-alone  -  Uma cuidadora cansada. 


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